26 de mai. de 2017

em são paulo
la garçonnière: d'orpheu, futurista e tudo
curadoria luciano cortaruas e vanderley mendonça


1917:
Rua Líbero Badaró, 67, no 3º andar, sala 2: endereço onde Oswald de Andrade (1890-1954) manteve, entre 1917 e 1918, no Centro de São Paulo sua Garçonière (quase 100 anos depois de alterações, o número atual é 452). Com algumas telas de Di Cavalcanti e Anita Malfatti nas paredes, o espaço era ponto de encontro entre seus amigos e sua amante, Maria de Lourdes Pontes, uma estudante de 16 anos, do Colégio Caetano de Campos, chamada por Oswald de Miss Cyclone. O fato de ir sozinha à Garçonière regularmente, sendo uma adolescente, fascinava os que mais frequentavam aquela Garçonière: Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Di Cavalcanti, Monteiro Lobato, Menotti del Picchia, entre outros. No "covil da rua Líbero" (como a Garçonière era chamada pelo autor de Memórias Sentimentais de João Miramar), entre muita discussão, brigas, amores e manuscritos pelo chão, ao som de uma Grafonola Columbia e poucos discos, aconteceu o grande ensaio do que seria a Semana de Arte Moderna de 1922. Parte do que fizeram foi contado num livro de registro de impressões: O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo, batizado por Pedro Rodrigues de Almeida, um dos habitués. Relatório de surrealidades, o livro-caixa-de-surpresas (apelidado anos depois por Haroldo de Campos), totalizou 203 páginas preenchidas com ditos e desditos, trocadilhos, piadas, desenhos, recortes, caricaturas, poemas, quase-poemas e uma "troca de correspondências" entre os frequentadores da Garçonière, que usavam apelidos: Oswald era Garoa e Miramar; Deisi era Miss Cyclone, Miss Tufão, Miss Terremoto, Tufãozinho ou Gracia Lohe; Pedro Rodrigues de Almeida era João de Barros); Monteiro Lobato era Frei Lupus Ancilóstomo, Conselheiro Acácio, Chico das Moças, Lobe, Rowita, Constante Leitor, Cuscus, Tutu Lambari e Zé Catarro; Menotti del Picchia era Paulo; o poeta Guilherme de Almeida era Guy e o desenhista Ignácio da Costa Ferreira era Ferrignac, Ventania e Jeroly. Os frequentadores do retiro oswaldiano anteciparam a era modernista, inaugurado naquele livro-objeto, "o cardápio perfeito para o banquete da vida", como escreveu Guilherme de Almeida. A Garçonière não existiria sem o livro de registro, assim como não existiria sem Oswald. Nas folhas do livro-caixa-objeto, Oswald compôs o primeiro esboço do seu romance "Memórias Sentimentais de João Miramar", publicado em 1924, a mais experimental obra da literatura modernista. Como todos os transformadores, Oswald de Andrade fundiu vivência e obra na experiência literária: arte & fraternidade. A grande obra é vida.

2016:
Avenida São João, 108, quarto andar, esquina com a Rua Líbero Badaró, num prédio muito parecido ao da Garçonière oswaldiana, o Escultor Social e Curador Luciano CortaRuas e o Editor e Poeta Vanderley Mendonça inauguraram uma Garçonière (exatos cem anos depois da inauguração do Cabaret Voltaire, em Zurique) e apenas a cem metros de onde funcionou a de Oswald de Andrade, entre 1917 e 1918.
A Garçonière do século XXI, que tem um leve tempero Dadá, abriga amigos, poetas, escritores, artistas e convidados numa das salas do Estúdio Lâmina (galeria e ateliê que reúne artistas residentes de várias partes do Brasil e estrangeiros). Com o mesmo espírito modernista de paradoxo, fraternidade, arte & vida, os organizadores abrem as portas ao público uma vez por mês.

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LA GARÇONIÈRE, 11ª edição.
Curadoria de Luciano CortaRuas e Vanderley Mendonça

Sábado, 27 de maio, a partir das 20 h
Estúdio Lâmina
Avenida São João, 108 - 4º andar - São Paulo
(Esq. Rua Líbero Badaró)
Entrada: R$ 15,00
Bar no local

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Para Almada Negreiros
Poeta d'Orpheu, Futurista e tudo!

LÍNGUA DA POESIA
Patricia Maês
Roberto Karman
Susanna Busato
Luís Perdiz
Luiz Roberto Guedes
Daniel Perroni Ratto
Juan Quintero Herrera
Vanderley Mendonça
Luciano CortaRuas

MÚSICA
Estranhos no Ninho.

ARS POETICA & PERFORMANCE

LIVROS




poema em música,
com annita costa malufe e
silvio ferraz







sarau gente de palavra
homenagem:
osvaldo rodrigues







mário da cultura andrade,
por carlos augusto leal







em lisboa
quasinvisível
ozias filho (brasil)


De 1º de junho a 27 de julho
De 09h30 às 18h30

Casa da América Latina (Casa das Galeotas)

Projeto urbano que assenta em três pilares: arquitetura, vitrines e sinalética várias. Desde 2008 que Ozias Filho fotografa esse tema, sem se perder no lugar onde as imagens foram registadas, e sim na memória de cidade A cidade, lato sensu, é o grande cenário, o cenário onde cada um de nós representa o seu papel e sempre visitada como um dado adquirido. Não ver a cidade no detalhe, na desconstrução, é não ver o outro?

Nas imagens de Quasinvisível não há gente, apenas a sua representação social, a sua herança e o seu fado.




em belo horizonte
letra em cena: como ler vinicius de moraes,
com eucanaã ferraz